Mourão já disse publicamente que discorda do pleito financeiro defendido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “Brasil não deve se comportar como mendigo”, afirmou o vice-presidente na segunda-feira.
Por Malu Gaspar**
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que é o presidente do Conselho da Amazônia, foi excluído das negociações sobre a participação brasileira na Cúpula do Clima promovida pelo presidente americano, Joe Biden.
Mourão não foi convocado para as conversas feitas em nome do governo Bolsonaro com os Estados Unidos e países europeus a quem o Brasil está pedindo dinheiro para combater o desmatamento na Amazônia. O vice-presidente tampouco teve acesso ao discurso que Bolsonaro fará amanhã no evento.
Ele já disse publicamente que discorda do pleito financeiro defendido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “Brasil não deve se comportar como mendigo”, afirmou Mourão na segunda-feira.
Salles tem dito que o Brasil precisa de pelo menos US$ 1 bilhão para combater o desmatamento, e que o país deveria ter recebido US$ 133 bilhões em créditos de carbono pelas reduções nas emissões de poluentes entre 2006 e 2017 – antes do início do governo Bolsonaro.
Já Mourão acha que o país deveria se concentrar em liberar os repasses do Fundo Amazônia. O fundo é composto por recursos aportados pela Noruega e a Alemanha, que estão congelados em razão de um impasse com o governo brasileiro.
A gestão de Salles e Bolsonaro retirou representantes da sociedade civil do comitê que define o destino do dinheiro. Depois disso, os patrocinadores do fundo travaram a liberação dos recursos, que só poderá ser retomada com uma queda sustentável nas taxas de desmatamento.
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São cerca de 3 bilhões de reais represados no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que Mourão vem tentando liberar. Mas os indicadores de derrubada da floresta só sobem. Em março, bateram recorde histórico.
Desde o início do governo, Mourão e Salles se digladiam em torno dos rumos que o governo deve dar à política ambiental.
É o vice-presidente quem comanda as operações de Garantia da Lei e da Ordem, ou de GLO, que enviam para a Amazônia as forças de segurança. Mas é o ministro do Meio Ambiente quem detém a confiança de Bolsonaro e seus filhos.
A equipe de Mourão também estabelece as diretrizes para a ação dos ministérios que fazem parte do conselho da Amazônia – Meio Ambiente, Defesa, Agricultura, Justiça, Economia, Casa Civil, Secretaria-Geral, Secretaria de Governo, GSI, Infraestrutura, Minas e Energia, Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento Regional.
O vice-presidente, no entanto, não se encontra com Bolsonaro há dias. Também não foi consultado e nem sequer comunicado com antecedência do teor da carta escrita pelo presidente Jair Bolsonaro a Joe Biden.
Na carta, o presidente brasileiro reafirmou o compromisso estabelecido em 2015 pela gestão de Dilma Roussef, no âmbito do Acordo de Paris, de eliminar o desmatamento ilegal até 2030. Mas afirmou que essa meta só poderá ser alcançada com o investimento de “recursos vultosos”.
***O GLOBO